SUICÍDIOS DE POLICIAIS AUMENTAM E ULTRAPASSAM MORTES EM CONFRONTOS EM 2023

2023 foi o primeiro ano em que suicídio entre policiais superou mortes em confronto. Anuário alerta para urgência em proteção à saúde mental. Foto: EBC

A última edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicada nesta quinta-feira (18) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, revelou que 2023 foi o primeiro ano em que os índices de suicídio entre policiais civis e militares superaram as mortes dos agentes em confrontos. Os autores do estudo alertam para a urgência para a implementação de políticas de proteção à saúde mental nas forças de segurança.

Por um lado, o ano de 2023 foi marcado por uma queda no número de mortes de policiais decorrentes de crimes violentos: somando confrontos dentro e fora de serviço, os índices caíram de 155 em 2022 para 127 em 2023. Os suicídios, porém, aumentaram de 99 para 118. O anuário ainda alerta para o risco de subnotificação desses números, “uma vez que há muito tabu em torno do tema, especialmente nas instituições de segurança pública”.

Os pesquisadores atribuem esses índices principalmente à incidência de Transtorno de Estresse Pós-Traumático (PTSD) entre agentes de segurança. A própria cultura organizacional das corporações policiais contribui para isso. “A cultura de naturalização de situações estressantes, à medida que fortalece o tabu que envolve o assunto da saúde mental policial, pode favorecer a invisibilidade do trauma, oportunizando o aprofundamento dos sintomas do adoecimento mental dos policiais”, explicam no relatório.

O perfil demográfico das forças de segurança também é apontado como um fator de contribuição para a alta incidência de PTSD: a maioria dos policiais são homens, culturalmente sujeitos a uma criação limitada em termos de autocuidado ou cuidado dos demais. Existe ainda uma negligência das próprias corporações em estudar seus próprios casos de suicídio, “porque envolve tensionamentos resultantes do ambiente de trabalho que afetam, não apenas a individualidade em si, mas o coletivo da categoria”.

Uma série de medidas são propostas no Anuário para que as corporações possam reduzir esses índices. A principal é a própria tomada de consciência por parte de gestores e comandantes, que precisam se aproximar de seus subordinados para que possam identificar sinais de estresse crônico relacionado ao ambiente de trabalho. “Se o topo conhece, mas não compreende as demandas da base, a gestão se torna incapaz de formular respostas que deem conta de fazer frente aos problemas do coletivo policial”, alertam os autores.

A formulação de políticas de valorização salarial e proteção aos direitos humanos de agentes de segurança também é citada como essencial para deter o aumento no número de suicídios, com ênfase em cuidado continuado com a saúde mental e coletiva de agentes. No âmbito federal, o relatório também cita a valorização com aumento de recursos e servidores do Escuta SUSP, programa do Ministério da Justiça voltado ao atendimento on-line de servidores de segurança pública.

Fonte: congressoemfoco\LUCAS NEIVA

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