Ficha suja, má gestão, corrupção, fake news, Lula … mas ninguém cita Bolsonaro em debate

Debate civilizado, com troca de farpas e ataques, mas sem ofensas pessoais marcam confronto na TV (Foto: TV Morena)

Com a participação de cinco candidatos a prefeito da Capital, o debate na TV Morena, o último antes do primeiro turno, foi marcado por ataques à gestão da prefeita Adriane Lopes (PP) e ao deputado federal Beto Pereira (PSDB). Ao longo de duas horas, os concorrentes recorreram a ficha, suja, corrupção, desvios na saúde, fake news, ao Governo Lula (PT), má gestão, falta de remédios nos postos de saúde e gabinete do ódio.

No entanto, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que teve o apoio disputado a tapa pela progressista e pelo tucano não foi lembrado por ninguém no confronto. Apesar do voto bolsonarista ser considerado importante na Capital, Beto, que tem o apoio oficial de Bolsonaro, e Adriane, que foi abandonada pelo ex-presidente na reta final, não o citaram nominalmente no confronto.

 polêmica inclusão de Beto com três contas reprovadas na lista do TCE (Tribunal de Contas do Estado) foi um dos pontos altos. Rose afirmou que o tucano é “ficha suja” porque foi condenado pela corte fiscal.

“Isso não é verdade. Isso é fake news”, defendeu-se o tucano, voltando a dizer que estava sendo “vítima de uma quadrilha”, do presidente do TCE, o conselheiro Jerson Domingos, e de um “site picareta”, em alusão ao Midiamax, que vem publicando denúncias contra o tucano. “Não estou contratando atores para se passar pelo candidato”, afirmou, referindo-se a operação da Polícia Federal nesta quinta-feira para investigar a contratação de um ator pela equipe da candidata do União Brasil.

Rose reafirmou que ele foi condenado pelo TCE, inclusive por conselheiros indicados pelo PSDB, mas desta vez não citou nominalmente Waldir Neves, Márcio Monteiro nem Flávio Kayatt. Em seguida, ela leu uma lista de 87 processos contra Beto Pereira, entre os quais 19 por improbidade administrativa, que ela destacou ser “corrupção”, cinco por danos morais e um por enriquecimento ilícito.

O tucano manteve o confronto e citou a Operação Coffee Break, acusando Rose como a “morena mais linda”, de ter participado do golpe para cassar o mandato de Alcides Bernal (PP) em troca do comando da Secretaria de Educação na gestão de Gilmar Olarte (sem partido). Como não foi denunciada nem virou ré no caso, Rose pediu e ganhou direito de resposta, o único concedido na noite. Ela disse que a negociação foi feita pelo partido e votou pela cassação seguindo orientação do MPE e do TCE.

Gabinete do ódio

Beto tentou usar o candidato do PSOL, Luso Queiroz, para atingir Rose ao citar a operação da PF de hoje. Ele disse que a federal desmontou “quatro fábrica de fake news”. O psolista não mordeu a isca e aproveitou para acusar o PSDB de criar o “gabinete do ódio” no Parque dos Poderes.

Luso acusou os tucanos de criaram fake news contra adversários, como Rose Modesto, Camila Jara (PT), ele próprio e o ex-prefeito Marquinhos Trad (PDT). “É preciso ser contra o gabinete do ódio”, frisou.

Ao ter direito a réplica, Beto voltou a destacar que não é ficha suja, que insistiu ser fake news. Em seguida, ele citou as denúncias que teriam feito contra ele, como a troca de votos por cachaça, biqueira de maconha e até a delação de um criminoso, que ele disse ser ligado ao PCC, numa alusão ao despachante David Clocky Hoffman Chita.

Luso disse que dava ao tucano a presunção da inocência, mas destacou que o despachante “tinha cargo no Governo do PSDB”. E voltou a acusar o tucano de ser ficha suja e de ter ficado devendo R$ 400 mil para a prefeitura de Terenos. “Quem está devendo para a prefeitura de Terenos é o Beto, não é o Luso”, afirmou.

Beto Pereira, Adriane Lopes, Rose Modesto, Luso Queiroz e Camila Jara participaram de debate (Foto: Divulgação)

Empregos no interior e folha secreta

No primeiro confronto, Adriane acabou sendo criticada por Rose porque a Capital vem perdendo empresas para o interior do Estado. A candidata do União Brasil afirmou que  Campo Grande perdeu a fábrica da Suzano, investimento de R$ 25 bilhões, para Ribas do Rio Pardo, a esmagadora de soja para Maracaju e a indústria moveleira para Água Clara. “É preciso reduzir a burocracia”, criticou.

Camila afirmou que a prefeita tinha apenas dois anos de mandato e já era alvo de investigações por pagar supersalários, pela folha secreta e pelo suposto desvio de R$ 24 milhões. “Mais uma vez, Camila levanta fake news, eu trabalho sério”, reagiu Adriane. “Eu não sou investigada, sou ficha limpa, assim você me ofende”, reagiu.

A deputada federal reagiu ao pedir que a prefeita tenha compromisso com a verdade. “Adriane  falta com a verdade, tem a folha secreta”, citou. Em seguida, ela citou o discurso de posse da prefeita, na qual enaltecia a gestão de Marquinhos Trad, o qual foi alvo de generosos elogios. “Estamos subindo nas nossas redes sociais o seu discurso de posse”, prometeu a petista, a que mais possui seguidores entre os sete candidatos a prefeito.

Adriane voltou a insistir que era alvo de fake news. Apesar de ter sido obrigada pelo TCE a tomar medidas para dar mais transparência e a explicar os pagamentos da folha secreta, a prefeita disse que ela tomou a iniciativa de fechar o acordo com a corte fiscal para resolver o problema.

Hospital nas mãos de empresa ré por corrupção

Luso Queiroz aproveitou a dobradinha com Camila para denunciar que Adriane Lopes planeja dar a construção do Hospital Municipal para a Health Brasil, empresa ré por corrupção na Justiça. O candidato do PSOL citou que o grupo é acusado de ter desviado R$ 46 milhões do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul.

Camila lamentou a prefeita priorizar o projeto bilionário, de R$ 1,2 bilhão, enquanto falta dipirona nos postos de saúde. Ela também criticou a construção do complexo no Bairro Chácara Cachoeira, que fica longe do centro da cidade e “na região onde nem ônibus passa”. “O Hospital Municipal nascerá privado e corrupto”, lamentou Luso.

Marquinhos

Adriane e Rose trocaram farpas sobre o ex-prefeito Marquinhos Trad. A prefeita culpou o antecessor, de quem foi vice-prefeita por dois mandatos e herdou o cargo. Ela o acusou de ser o responsável pela falta de remédios nos postos de saúde, apesar do problema ter persistido até março deste ano. Ela atribuiu o problema a Marquinhos e destacou que o ex-prefeito apoia a adversária.

Rose reagiu e disse que fez aliança com o PDT, não com Marquinhos. “A senhora e o PSDB não me deixaram ser candidata”, lembrou a ex-deputada federal, que não conseguiu legenda para disputar a prefeitura em 2020 e enfrentar Trad.

Em seguida, as duas trocaram acusações sobre quem seria aliada do PT. Rose acusou Adriane e o marido, o deputado estadual Lídio Lopes (sem partido), de terem feito a campanha para o deputado federal Vander Loubet (PT). Ela não citou o petista.

“Não estou aqui para discutir amenidades nem vida pessoal”, reagiu Adriane, já que Rose tinha citado o marido como “Janjo”. “Nunca mudei de lado”, jurou a prefeita, sobre o fato de ser conservadora.

A dor das mães de crianças com deficiência

Camila Jara e Beto Pereira fizeram uma dobradinha para atacar Adriane no atendimento às mães de crianças com deficiência. De acordo com a deputada, a prefeitura não fornece, há dois anos, dieta para as crianças e a prefeita ainda perdeu o repasse de R$ 12 milhões do Ministério da Saúde.

“Perdeu R$ 12 milhões por má gestão”, criticou o tucano, que lembrou o protesto das mães em frente ao palanque no dia 26 de agosto deste ano, durante o aniversário de  Campo Grande. O tucano ainda acusou Adriane de não cumprir decisões judicias que determinam a entrega de fraldas e remédios. “Mães ficam mendigando para ter o mínimo”, lamentou a petista.

Rose também aproveitou momento do debate para criticar a piora na educação especial, onde professores teriam sido substituídos por atendentes nas salas de aula.

Obras para a eleição

Beto Pereira criticou Adriane por só realizar obras “a 30 dias das eleições”. O deputado acusou a prefeita de ser muito devagar para realizar obras. Ele classificou o ritmo de Adriane como “operação tartaruga”.

Ele destacou que a obra de revitalização da Avenida Ernesto Geisel só vai ser concluída uma pequena parte e lamentou que o trecho mais crítico, próximo da Avenida Manoel da Costa Lima, continua sem previsão de ser reparado.

“O hospital municipal não é fazer no afogadilho, na véspera de eleição, sem discutir com a população”, detonou o tucano. Ele disse que a prefeita não consegue resolver o problema dos outros hospitais, como quitar a divida de R$ 500 milhões com a Santa Casa. “É preciso tratar a saúde com prioridade e não ficar só com ações eleitoreiras”, acusou.

Adriane se defendeu e repetiu um mantra em todo o debate, que está há dois anos e vem fazendo. “O senhor não conhece Campo Grande”, acusou. Em seguida, garantiu que vem realizando obras na Capital e negou que só tenha feito agora na véspera das eleições.

Lula

Camila Jara criticou Adriane por não ter participado da visita de Lula ao frigorífico da JBS, quando a empresa anunciou investimento de R$ 150 milhões e a criação de 2,3 mil novos empregos para aproveitar a Rota Bioceânica. Adriane inventou um compromisso em São Paulo para evitar o encontro com o petista, já que na época, ela pleiteava o apoio de Bolsonaro.

Se o ex-presidente foi a grande ausência do debate, o petista foi citado mais de uma vez por Camila. A deputada citou que Lula está investindo R$ 840 milhões em obras na Capital, inclusive na construção de casas populares. Só na ciclovia da Avenida Duque de Caxias, citada como uma das realizações de Adriane, Camila disse que o Governo Federal está aplicando R$ 10 milhões.

Beto enalteceu a candidata a vice-prefeita, Neidy Barbosa, a Coronel Neidy (PL). Já Adriane enalteceu a senadora Tereza Cristina (PP). “Ela me inspira”, destacou.

Ao longo do debate, os candidatos alternaram momentos de nervosismo com postura firme nas respostas. Beto, Adriane e Camila pediram direito de resposta, mas tiveram os pedidos negados pela assessoria jurídica do debate.

Fonte: ojacare.com.br/By Edivaldo Bitencourt

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