Em meio a protesto, deputado apela a colegas para evitar que Pantanal vire nova fronteira agrícola

Após a Assembleia Legislativa sepultar o sonho do ex-deputado estadual Amarildo Cruz (PT) de proibir o cultivo de soja no Pantanal, o plenário foi palco de protestos de ambientalistas. Na esteira do debate, Pedro Kemp (PT) fez um apelo aos 23 colegas para manter em discussão o bioma e evitar que ele se torne uma nova fronteira agrícola, ocasionando sua destruição de forma irreversível.

Com a morte de Amarildo, coube a Kemp reapresentar um projeto de lei que dispõe sobre a preservação e proteção do Pantanal sul-mato-grossense, para conter o avanço da abertura de novas lavouras destinadas ao cultivo de monoculturas na região. A proposta, porém, foi barrada pela Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJR).

Com a justificativa de que o projeto contraria o “princípio da livre iniciativa”, garantido pela Constituição Federal, e considerado um dos pilares fundamentais da economia, a comissão o arquivou por unanimidade, em parecer do dia 5 de abril.

O arquivamento levou ambientalistas da ONG SOS Pantanal, professores e estudantes a protestarem no plenário da Assembleia Legislativa nesta terça-feira (18). “Pantanal não é lugar de soja”, “Pantanal é lugar de pantaneiro”, diziam algumas faixas levadas por eles.

O deputado Pedro Kemp foi a voz dos manifestantes na tribuna da Casa. “Não é uma questão menor, não é uma questão secundária, não é uma questão superficial. O que está acontecendo hoje já é um sinal de alerta de que medidas urgentes precisam ser tomadas pelos países. No âmbito internacional, existe uma articulação forte para protegermos o meio ambiente e entregarmos para as futuras gerações um ambiente protegido”, discursou.

“Nós aqui no Mato Grosso do Sul temos que fazer a nossa parte nesse contexto. Temos que estudar e nos aprofundar no que vem acontecendo, para disciplinar o uso sustentável dessa parte tão importante do nosso território. É urgente que a Assembleia Legislativa traga essa responsabilidade para si, de cuidar do Pantanal, de regulamentar. Temos a prerrogativa de legislar de forma mais restritiva já que temos a lei federal, chamado Código Florestal. Mas o Mato Grosso do Sul pode legislar de forma concorrente, de forma restritiva para proteger o Pantanal”, prosseguiu o petista.

“Nós não podemos concordar com este parecer. Eu queria aqui fazer um apelo à Comissão de Constituição e Justiça desta Casa, mas também aos 23 deputados. Nós precisamos retomar este debate. Não é porque o parecer foi por unanimidade que vamos enterrar essa discussão. Parece que o Pantanal está sendo uma nova fronteira agrícola. Amanhã pode ser tarde demais”, concluiu.

Deputados assistem ao discurso de Pedro Kemp com manifestantes ao fundo. (Foto: Luciana Nassar/Alems)

Kemp ainda afirmou que se os colegas da Assembleia Legislativa não quiserem discutir e implementar leis de uso do Pantanal, ele vai recorrer ao Ministério do Meio Ambiente e à ministra Marina Silva. 

Entre os manifestantes, estava o diretor da Organização Não Governamental SOS Pantanal, Felipe Augusto Dias. “Sabemos que a soja utiliza muito agrotóxico, e que existem estudos que mostram o prejuízo ao bioma. Apresentei indicação ao MP e ao Imasul [Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul] para fazer frente a isso que pode se transformar em uma nova fronteira agrícola no nosso Pantanal”, explicou.

“O pantanal não é lugar de soja. A gente conhece o bioma por 11 características diferentes, além de temos a pecuária extensiva na região. É por isso que estamos preocupados neste debate hoje. Quando a soja é explorada em uma área, ela trás consigo produtos químicos agressivos”, completou Felipe, conforme relato ao Campo Grande News.

Responsável pela relatoria do Projeto de Lei na CCJR, o deputado Pedro Pedrossian Neto (PSD) defendeu a sua posição. “O que discutimos no grupo de trabalho não diz respeito ao mérito do projeto, que violava alguns aspectos jurídicos, legais e constitucionais. Em relação às inconstitucionalidades, alguns princípios foram invadidos”, argumentou.

Presidente da Comissão de Constituição e Justiça, Mara Caseiro (PSDB) também interveio a favor do arquivamento do projeto. “Entendo o deputado discordar de uma decisão da CCJR, eu mesma já discordei […]. A lei é clara, não discutimos mérito, estamos lá para debater a constitucionalidade. Desde 2009, temos a Lei 3839, que institui o programa gestão territorial, aprovando o Zoneamento Ecológico. Esta norma foi construída com praticamente 89 instituições, e na Assembleia, há sim a defesa do bioma Pantanal. Se não está sendo cumprida, claro que temos que trazer essa discussão para esta Casa de Leis”, alegou.

Deputado estadual Pedro Kemp discursa na tribuna da Assembleia Legislativa. (Foto: Luciana Nassar/Alems)

Fonte: O Jacaré

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