Preço do boi despenca no pasto, mas queda não chega no açougue e picanha ainda custa R$ 70

O valor da arroba do boi despencou nos últimos dois anos e acumula queda de 26% em Mato Grosso do Sul, segundo cotação da Famasul (Federação de Agricultura e Pecuária). No entanto, a queda nos preços ainda não chegou ao consumidor, já que a redução foi de apenas 4,27% no açougue.

Em Campo Grande, o quilo da picanha ainda pode ser encontrado a R$ 70. O pedaço foi um dos símbolos da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e vira e mexe, a carne nobre acaba sendo citada como exemplo de que o petista não estaria cumprindo as promessas de campanha.

Entre 2020, início da pandemia da covid-19, e 2021, a arroba do boi gordo teve valorização de 63% no Estado, passando de R$ 187 para R$ 305. A cotação recorde fez a festa dos pecuaristas. Contudo, o preço começou a cair no ano passado, quando estava em R$ 277 em junho, e chegou a R$ 226,83 no início do mês, de acordo com o levantamento da Famasul.

Contudo, a carne não ficou barata no mesmo ritmo para o consumidor final. De acordo com o DIEESE (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos), entre maio de 2020 e 2022, o valor médio da carne bovina teve alta de 40,48% nos açougues.

Por outro lado, a queda não foi repassada no mesmo ritmo para o consumidor. O quilo teve redução de apenas 4,27% nos últimos 12 meses, de R$ 40,48 para R$ 38,75. A dona de casa tem ficado mais pobre toda vez que passa pelo açougue.

“O preço (da carne) está bastante caro. A arroba caiu bastante, mas (a redução) não chegou ao consumidor”, lamentou o aposentado e trabalhador de serviços gerais de fazenda, Roberto Lima, 63 anos. “Minha mulher vai fazer compra com R$ 300 e volta com a compra nos dedos das mãos. Antes, com esse valor, a gente não aguentava carregar”, conta.

Lima defende que o Governo fiscalize o setor para saber quem está ficando com o lucro entre o pasto e o açougue. “É preciso saber quem não está baixando o preço”, cobrou.

Aposentada, a dona de casa Fermina Tavares tem a mesma opinião. “O preço da carne não baixou nada”, lamentou. Ela conta que reveza carne bovina com ovo e suína para economizar na compra do mês.

No Mercadão, os açougues contam que a redução foi mínima. A picanha teve pequena redução, de R$ 69 para R$ 59. No entanto, ainda há estabelecimentos que negociam quilo a R$ 70. O file mignon chega a custar R$ 75.

Bumlai defende campanha para o consumidor forçar a queda do preço da carne no açougue (Foto: Arquivo)

A Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul) quer lançar uma campanha para baixar o produto na gôndola. Para o presidente da entidade, Guilherme Bumlai, houve redução no preço da arroba e no frigorífico. Ele suspeita que os supermercados e açougues estão ficando com a margem de lucro.

A entidade planeja realizar uma campanha para conscientizar o consumidor de que só ele, com muita pesquisa e optando pelos preços mais em conta, para reduzir o valor da carne bovina. “Tem espaço para reduzir na gôndola, é possível fica mais barato”, avaliou Bumlai sobre o preço praticado nos supermercados.

“A nossa luta é para entender a margem do supermercado, que está muito alta”, alerta o pecuarista. Ele garante que os frigoríficos estão reduzindo o valor na mesma proporção da arroba.

De acordo com o presidente da Acrissul, a redução no preço da arroba reflete a queda nas exportações para a China, queda no consumo interno e ampliação na oferta de carne no mercado brasileiro. Houve aumento de 6% no abate de bovinos neste ano.

A Acrissul avalia que o valor de R$ 230 pela arroba do boi gordo é o mínimo que pode ser suportado pelo produtor rural. Um valor abaixo deste pode comprometer os ganhos no campo.

O produtor só não está reclamando muito porque houve queda nos preços dos insumos e materiais. O rolo de arame, por exemplo, caiu de R$ 990 para R$ 600, conforme Bumlai. O custo da produção teve queda, o que ajudou o produtor a aguentar a queda de 25,9% no valor da arroba.

Fonte: O Jacaré

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