Falta de experiência de Adriane fica evidente na reação às crises e problemas crônicos da Capital

Há 10 meses no poder, a prefeita Adriane Lopes (Patri), 46 anos, coleciona crises e críticas da população e vereadores acerca de problemas crônicos enfrentados por Campo Grande, como estragos causados pela chuva, ruas esburacadas e obras paradas. Em sua trajetória há também três greves e uma enrolada definição da tarifa do transporte público.

Adriane assumiu o comando do Paço Municipal em abril de 2022, após Marquinhos Trad (PSD) sair candidato ao Governo do Estado, algo que era esperado desde as eleições de 2020, quando foi reeleito.

Sendo assim, não é possível dizer que foi uma surpresa a então vice-prefeita ter herdado o segundo maior orçamento do Estado, de R$ 5,4 bilhões para 2023, e gerir uma máquina com 25 mil servidores em uma cidade com mais de 942 mil habitantes.

Mesmo com dois anos de preparação, Adriane Lopes não conseguiu evitar duas paralisações dos motoristas de ônibus e dos professores da Rede Municipal de Ensino. A primeira greve foi em junho do ano passado, quando os trabalhadores dos ônibus cruzaram os braços por não receberem os salários.

Em dezembro, foi a vez dos professores deixarem cerca de 110 mil estudantes sem aulas porque exigiam o cumprimento do piso nacional do magistério para 20 horas até o final de 2024. A primeira medida para cumprir o acordo era o reajuste de 10,39%.

Os motoristas de ônibus pararam pela segunda vez no dia 18 de janeiro deste ano, após negociação salarial da categoria com o Consórcio Guaicurus travar. As empresas alegavam que não poderiam garantir aumento nos salários sem a definição do valor da tarifa pela prefeitura.

As duas crises só foram solucionadas definitivamente no final de janeiro, com a definição da chamada “tarifa técnica” de R$ 5,80 para o transporte público e a aprovação do pagamento aos professores do reajuste de 10,39%, parcelado em duas vezes.

Neste intervalo, as chuvas de verão causaram estragos em Campo Grande, como visto em anos anteriores, e os buracos voltaram a tomar ruas e avenidas da cidade.

A Prefeitura da Capital tem deixado de pagar empreiteiras responsáveis por obras importantes. A GTA Projetos e Construções Ltda encaminha três obras de pavimentação, mas todas a passos lentos, porque já pediu a rescisão contratual, que não foi analisada pelo município.

Os corredores do transporte coletivo, apesar do investimento de R$ 120 milhões, também estão com obras paradas e se transformaram em causas frequentes de acidentes de trânsito.

A revitalização da antiga rodoviária também passa por problemas, com atraso no cronograma de obras. E, o problema mais recente, é a ameaça de paralisação dos profissionais da enfermagem, que estão sem receber valores por insalubridade.

Caso a enfermagem entre em greve, Adriane vai bater o recorde da década ao ter a gestão marcada por greve do ônibus, dos professores e na saúde. Alcides Bernal enfrentou greve no lixo e Gilmar Olarte teve greve na educação e saúde.

Planejamento tardio, falta de experiência e comando

Diante dos problemas, as críticas à gestão de Adriane Lopes se acumulam. Vão desde a falta de experiência, passando por erros no planejamento na montagem da equipe e de falta de comando.

Para o doutor em ciência política e social Daniel Miranda, o que talvez esteja “pesando” é a falta de experiência política da prefeita e a dificuldade de equilibrar os diversos apoios que recebeu para chegar ao comando do Paço Municipal.

“Quando você toma decisões, sempre vai beneficiar/agradar uns e não beneficiar outros. Esse equilíbrio é muito delicado e difícil de saber, com antecipação, se vai dar o resultado esperado (em termos de gestão e de apoios futuros para as eleições seguintes)”, explica Daniel.

Daniel lembra que, após a reeleição de Marquinhos Trad em 2020, era praticamente garantido que Adriane assumiria a prefeitura dois anos depois e, mesmo assim, faltou planejamento para a passagem do bastão.

“Os grupos que a apoiam parecem ser diversos e, querendo ou não, embora dois anos atrás já estava quase certo que ela iria assumir com a renúncia do Trad para disputar o governo estadual, as alianças políticas em 2020 foram costuradas por e em torno de Marquinhos. Talvez ela não tenha conseguido preparar bem essa transição”, opina o cientista político.

Outro ponto que ele destaca é a falta de experiência em administração pública. “Eu não acompanho o governo dela ‘por dentro’ , mas olhando de fora é exatamente essa a impressão que tenho: ela não tem experiência de gestão. Trocou boa parte da equipe quando assumiu (algo normal) achando, talvez, que a máquina ia continuar trabalhando por inércia, o que não ocorreu”, finaliza.

Relação com a Câmara de Vereadores

O vereador Marcos Tabosa (PDT) é enfático em dizer que não é Adriane Lopes que manda na administração do município.

“Na minha opinião, não é a prefeita Adriane Lopes que está administrando Campo Grande. Ela não tem habilidade para isso. Ela está cometendo o mesmo erro que seu antecessor, que deixou Campo Grande um caos. Está aí para todo mundo ver. Maquiou Campo Grande até sair candidato ao governo”, disparou Tabosa. “Ela está indo pelo mesmo caminho. Ela não tem capacidade nenhuma para administrar Campo Grande, que vai se afundar mais e mais, é visível isso”. 

Adriane é casada com o deputado estadual Lídio Lopes (Patri), que é tratado nos bastidores como ‘manda-chuva’ no Paço Municipal O parlamentar recebeu até a alcunha de “Janjo”, em referência à esposa do presidente Lula, Janja, que apesar de não ter cargo oficial no governo, tem influência em algumas decisões no Planalto.

André Luis (Rede) defende que Adriane herdou dificuldades políticas “provavelmente por causa de acordos que ela deve ter tido com o ex-prefeito” e que deixou para organizar sua equipe tardiamente.

“Eu entendo que a atual prefeita pegou o que a gente chama de uma ‘herança maldita’, um grande problema, e que ela tem que ser uma grande administradora. Ela está demorando muito tempo para assumir a Prefeitura. Praticamente só agora em janeiro é que está começando o trabalho dela. Ela tem menos de dois anos para tentar arrumar um grande prejuízo deixado pela gestão anterior, inclusive sob aspectos econômicos”, argumenta o parlamentar.

“Mas está complicado porque ela não consegue montar uma equipe realmente comprometida, tem que ser uma equipe séria. A gente nota que apesar do esforço dela, ela não está conseguindo montar essa equipe que deveria trabalhar adequadamente. Ela demorou demais, deveria ter começado em maio [de 2022], e deixou para praticamente começar em janeiro. A questão do tempo vai prejudicá-la muito”, conclui André Luis.

Um cenário esperado na transição de governante, seria Adriane herdar o apoio da maior bancada da Câmara de Vereadores. O líder do PSD, vereador Coringa, no entanto, afirma que nem isso está garantido.

“Hoje nós não somos mais governo. Agora o governo está na mão de outro partido. E todos os secretários que eram ligados ao PSD não estão mais [na prefeitura]. A nossa posição é de ser ou situação ou independência”, explica Coringa.

O parlamentar diz que espera uma conversa com a prefeita e os oito membros do partido no legislativo para tomarem uma decisão.

“Para contornar essas crises, depende de habilidade política. Não é só uma crise que ela vai ter esse ano. Por isso, é importante ela ter o apoio dos partidos para sustentar essas crises”, finaliza Coringa.

O secretário de Governo, Mario Cesar (MDB), defende que a chefe tem total controle da administração de Campo Grande. “Quem manda é ela [Adriane Lopes]. Ela é a prefeita. E é ela que vai negociar diretamente com os vereadores, respeitando a independência da Câmara”, disse.

Nesta sexta-feira (17), O Jacaré publica a entrevista completa.

Fonte: O Jacaré

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