Paulo Storani defende que não tem como melhorar as instituições militares sem bons representantes na política

Muito antes de ser militar, o policial ou bombeiro é um cidadão e não tem outra maneira de melhorar as condições da tropa sem a política partidária. É nela que a vida do militar e de sua família é definida por meio de ações, leis e projetos. Essa é a opinião do antropólogo social e veterano do Bope da Polícia Militar do Rio de Janeiro, Paulo Storani, que concedeu entrevista para o Jornal Servidor Público, durante transmissão de live realizada no dia 3 de junho.

 “Mato Grosso do Sul precisa escolher seus representantes em nível estadual e federal que represente os interesses da categoria. Se não for assim vamos ficar à mercê de algum congressista que seja simpatizante com as causas e não um representante nosso. E começa agora, no município, tendo vereadores policiais militares, bombeiros militares, policiais civis que sejam eleitos”, afirmou Paulo.

O processo eleitoral começa muito antes da eleição por meio de representatividade forte e que atue pelo interesse da maioria e não apenas uma extensão do governo acatando as ordens sem nenhum debate ou crítica. “Precisa as instituições policiais definirem aqueles nomes que teriam capacidade de representar os interesses institucionais no âmbito estadual, municipal se for o caso, ou no Congresso Nacional, como hoje há excelentes deputados que exercem um excelente papel, como por exemplo a ‘bancada da bala’ que contraria a ‘bancada da maconha’, ‘do tráfico’. Temos que começar a dar nomes a essas bancadas que são antagônicas aos interesses da sociedade”, complementou.

Storani faz um alerta. “O processo eleitoral é muito perverso, precisa conquistar espaço político, demonstrar força política para que possa atuar dentro dos partidos políticos. No nível municipal começa agora, sem dúvidas, e principalmente no nível estadual e federal”.

O veterano ressaltou que é necessário um consenso em torno de um nome que demonstre capacidade e conhecimento da realidade de todas as categorias, principalmente aquelas que carregam maior prejuízo e sofrem com o sistema político. “Precisa ocorrer consenso em cima de pessoas que estejam comprometidas e que sejam capazes de exercer essa política partidária, porque precisa de capacidade para isso e estômago para viver com tudo que tem lá dentro, essa é a recomendação que eu faço”.

A transmissão da live teve como mediadora a jornalista Roberta Cáceres, acompanhada do editor Claudio Souza. A entrevista foi transmitida pelo instagram do Jornal do Servidor Público MS e também pode ser acessada na íntegra no Youtube através do link:  https://www.youtube.com/watch?v=WBpgXgSfuU8&t=2891s

O coordenador do Fórum dos Servidores Públicos de Mato Grosso do Sul, Thiago Mônaco Marques, também participou da live e comentou sobre a descrença das pessoas na política. “Observamos as pessoas descrentes com a política, mas sabemos que a política é instrumento de transformação social e que pode fazer a diferença em nosso país”, afirmou.

Storani concordou e destacou que é por meio dela que as mudanças podem ocorrer. “Qualquer transformação se dará por meio dessas ações em qualquer que seja o nível,  federal, estadual e municipal. Por mais malvista que seja, por mais criticada que ela possa ser, é na instância da política que a mudança pode ocorrer”.

“Há pessoas muito bem-intencionadas, como o contrário também. Um grande problema das instituições policiais, pelo menos, no meu Estado, é que eles não conseguem escolher e identificar as suas representações. Eu acompanhei aqui no Rio de Janeiro, para deputado estadual, que tiveram vários candidatos que se lançaram sem haver convergência de interesse, com dezenas e no final das contas, não se elegeu nenhum e a categoria ficava dependendo de outros candidatos eleitos que tinham algum interesse ou afinidade com as instituições policiais. E quando ouve algum tipo de consenso, aí nós conseguíamos representação”, complementou Storani.

Redução de direitos

Sobre as portarias do Exército Brasileiro em restringir armamento para os policias e bombeiros militares e depois voltar atrás, Storani destacou sobre a tentativa de diminuir os direitos dos militares. “Não vejo problema nenhum das instituições públicas tomarem decisões e voltarem atrás em razões de posicionamentos do Congresso Nacional, por exemplo, como aconteceu com a restrição das armas. O que me chamou atenção é que houve uma primeira publicação onde esses direitos eram concedidos e depois houve uma revogação dessa decisão fazendo restrição aos policiais militares e bombeiros. Onde esses militares tem um efetivo muito maior que o exército brasileiro, inclusive na inatividade”.

Storani também evidenciou aqueles que têm interesse em restringir os militares. “Quem é o antagônico à bancada da bala no Congresso Nacional? Tendo em vista que essa bancada é a que defende o direito da população de se defender”.

“A minha argumentação é muito simples: Existe a garantia da segurança pública, mas nenhum desse direito garante a segurança dentro da casa do cidadão. Na rua você tem o policiamento ostensivo que proporciona, ou deveria proporcionar, a segurança necessária do ir e vir das pessoas. Mas dentro de casa não. Se a polícia não pode proporcionar a segurança dentro de casa, como pode o governo tirar o direito do cidadão de se proteger. Por que não o cidadão de bem adquirir, na forma da lei, o direito de se proteger. O que falta é uma responsabilização do uso indevido”.

“Essa bancada antagônica é a mesma que defende a liberação das drogas, que além de ser contra a utilização de arma para autodefesa, é a favor do uso de drogas, da maconha, normalmente defendem o aborto, então por que não chamá-los de bancada abortista”, questionou Storani.

Facções criminosas

Claudio Souza comentou sobre o avanço das facções criminosas e a ausência do Governo Federal em reduzir os crimes nas fronteiras do Brasil, como ocorre em Mato Grosso do Sul que faz fronteira com Bolívia e Paraguai. “O atual governo e sua bancada representativa, conhecida como a ‘bancada da maconha’ tem uma visão deturpada da ação da polícia. Não conseguem ver as instituições militares, no caso, as estaduais, como uma força necessária de contenção da violência e do avanço da criminalidade”, afirmaram Storani.

“O bom policial, bombeiro, policial civil, tem um problema sério, ele não gosta de bandido. Se gosta é porque está do lado errado. Dessa forma, o bandido não gosta do policial. Ou seja, essa bancada, até mesmo integrantes do governo, eles têm uma visão da polícia de antagonismo aos seus interesses e é obvio que, neste período, as instituições policiais estão sujeitas a medidas que vão restringir sua capacidade de atuação”.

Piso nacional

Quanto a piso nacional para militares de todo País, Storani acredita sem muito pouco provável esse projeto avançar no Congresso Nacional. “Não estou vendo ações do Governo Nacional com intuito de fortalecer as instituições policiais em todos os aspectos”.

“Durante muito tempo eu não via as instituições militares com um ânimo tão forte de combate como no governo anterior (do ex-presidente Jair Bolsonaro), animada e acreditando. Porque havia um discurso nesse sentido, então mostra a importância do governante com essa atenção daqueles que cuidam dia e noite da nossa segurança”, complementou.

Arquétipos

“Nesse governo atual o discurso é totalmente contrário, há uma ausência de qualquer observação. Como antropólogo eu preciso deixar bem claro que a família é a menor escala da sociedade e os filhos necessariamente dependem de arquétipos que são modelos de comportamento e que orientam a forma de como eles agirão a partir de uma percepção de seu entorno. E um processo dessa percepção de como ele precisa se conduzir na vida a partir de uma estrutura de valores que devem ser os arquétipos para seus filhos”.

“Da mesma forma que esses governantes precisam ser arquétipos para a sociedade. Se você tem um modelo que não valoriza as instituições da segurança pública, que a todo momento vem observando negativamente, restringindo, ou fazendo críticas que não fazem nenhuma construção de melhoria, é obvio que as instituições são tomadas por um desânimo”.

Storani ainda cita como exemplo os presos que fizeram “festas” nos estabelecimentos penais após o resultado da eleição do presidente. “Como vemos nas redes sociais com o resultado da eleição do presidente da república nas manifestações efusivas por parte das organizações criminosas dentro das cadeias e nos territórios dominados por elas, nas comunidades, principalmente os narcotraficantes”.

Câmeras nas fardas

“A questão das câmeras nas fardas por exemplo. Sou totalmente favorável ao uso de qualquer tecnologia que ajude os policiais. Mas vou fazer uma ressalva em relação as câmeras principalmente do antigo ministro da justiça, hoje atual ministro do Supremo Tribunal Federal, que era para fiscalizar os policiais, para responsabilizar caso fosse identificado um comportamento indevido, caso fosse utilizado o uso excessivo da força e em nenhum momento ele falou sobre a melhoria da técnica policial, sobre a própria capacidade da instrução policial”, disse Paulo.

“Já que o ministro tem esse posicionamento em relação a câmera, então que os policiais quando forem solicitados devem fazer a mesma coisa que o ministro da Justiça teve quando foi solicitado as imagens da câmara do Palácio do Planalto nas ‘manifestações de 8 de janeiro’ que simplesmente não entregou na CPI no Congresso Nacional sobre o fato e ficou por isso mesmo”, pontuou.

Roberta Cáceres / Jornal Servidor Público MS

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *